sexta-feira, 2 de abril de 2010

O Meu Condão - Florbela Espanca



Quis Deus dar-me o condão de ser sensível

Como o diamante à luz que o alumia,

Dar-me uma alma fantástica, impossível:

- Um bailado de cor e fantasia!



Quis Deus fazer de ti a ambrosia

Desta paixão estranha, ardente, incrível!

Erguer em mim o facho inextinguível,

Como um cinzel vincando uma agonia!



Quis Deus fazer-me tua... para nada!

- Vãos, os meus braços de crucificada,

Inúteis, esses beijos que te dei!



Anda! Caminha! Aonde?... Mas por onde?...

Se a um gesto dos teus a sombra esconde

O caminho de estrelas que tracei...



Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"

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