sábado, 8 de maio de 2010

Quando o Homem Beijou a Lua...






"No momento em que o Homem chegou à Lua, a Lua estava a dormir

profundamente, depois de ter passado várias noites agitada por estranhos pesadelos.

Quando acordava, não conseguia recordar-se deles, mas sentia o desconforto que os

sonhos maus costumam deixar-nos no corpo, na memória e até à flor da pele.

Quando o Homem pisou o seu solo áspero e poeirento, a Lua sentiu que qualquer

coisa rara e importante estava a acontecer, pois, desde sempre, o Homem pousara nela

os seus olhos curiosos e brilhantes sem descobrir a maneira de chegar tão longe e tão

alto, talvez para a beijar ou para a abraçar.

Durante milhares de anos, houvera entre ambos uma espécie de longo namoro à

distância, sem troca de cartas nem de promessas de amor eterno. O Homem, porém,

nunca deixou de lhe dedicar belos poemas, para que a Lua jamais pudesse imaginar

que caíra no seu esquecimento.

Por sua vez, mesmo nas noites mais escuras e enevoadas, a Lua procurou sempre

enviar-lhe as suas centelhas de luz, como se quisesse dizer-lhe:

– Sabes onde estou e sabes também que podes contar comigo."
 
 
In: José Jorge Letria, Quando o Homem Beijou a Lua,  Alfragide, Oficina do Livro, 2009
 (texto com supressões)

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